Thursday, September 27, 2007

Futebol: Reforma do Quadro Competitivo nacional: CLUBES DE SANTIAGO SUL NÃO COMPARECEM À REUNIÃO DE APRESENTAÇÃO DO PROJECTO


A reforma proposta é profunda e tende a dar qualidade ao futebol de Cabo Verde, aumentando-lhe a competitividade. Para tanto, é necessário que os clubes adiram com mente limpa e se disponham, eles mesmos, a dar resposta às exigências que o novo Quadro Competitivo traz

Exceptuando a direcção e a equipa técnica da Associação Académica da Praia, os clubes de futebol de Santiago Sul não se fizeram representar na reunião com a Federação Cabo-verdiana de Futebol para análise do Projecto de Reforma do Quadro Competitivo Nacional. O objectivo era socializar - com os dirigentes, treinadores, técnicos de futebol e demais interessados - o projecto para a criação de uma primeira liga de futebol, com a participação de 12 equipas, no sistema de todos contra todos a duas mãos, mas os agentes desportivos de Santiago Sul ligados ao futebol não se dignaram comparecer ao encontro.
O projecto, que foi apresentado aos dirigentes e treinadores de São Vicente, numa reunião realizada à margem da Taça Independência, que decorreu de 9 a 18 de Agosto na cidade do Mindelo, tem como principais objectivos reorganizar a estrutura das competições, a criação de um novo Campeonato Nacional, a instituição de um regulamento de direitos e obrigações dos clubes e jogadores participantes no Campeonato Nacional, a regulamentação do número de jogadores a inscrever e a regulamentação de contratos dos jogadores e treinadores.
De acordo com o projecto enquadrado no programa da FIFA “Gagner en Afrique avec l’Afrique”, a Reforma do Quadro Competitivo (Situação Actual) contempla três fases: a primeira consiste no apuramento dos campeões regionais das 11 associações existentes; a segunda prevê a realização do Campeonato Nacional entre 12 clubes, sendo 11 campeões regionais mais o último campeão nacional – a competição terá dois grupos de 6 equipas, jogando todos contra todos a uma só mão, para o apuramento do 1º e 2º classificado de cada grupo; na terceira etapa, realizam-se as meias-finais entre os classificados da fase 2, com jogos a duas mãos, jogando o primeiro contra o segundo de grupos diferentes para apuramento dos finalistas – final a duas mãos entre os vencedores das meias-finais.
Depois desta fase inicial seria a vez de um Campeonato Nacional com 10 jogos de todos contra todos com 1ª e 2ª volta. O primeiro classificado será o campeão nacional, com acesso à Liga dos Campeões Africanos; o 9º e o 10º classificados serão despromovidos ao Campeonato Regional.
Para ter acesso ao Campeonato Nacional com 10 clubes, primeiro far-se-á o apuramento de 16 equipas para acesso à segunda fase, ou seja: 11 campeões regionais mais 5 equipas classificadas em 2º lugar nas Associações Regionais de Santiago Sul, São Vicente, Sal, Boa Vista e Fogo. A outra etapa, torneio “Promoção ao Campeonato Nacional”, será desenvolvida em 4 jornadas eliminatórias, primeiro com a disputa dos oitavos-de-final, com sorteio dirigido para evitar que equipas da mesma Associação Regional se defrontem; quartos de final e final com sorteios integrais; os finalistas ganham o direito de disputar o Campeonato Nacional.
AS NOVAS REGRAS
Em relação às normas de participação no Campeonato Nacional serão levadas em conta os preceitos estatuídos pela FIFA: “os jogadores que participam no futebol organizado são amadores ou profissionais. Um jogador é profissional quando beneficia de um contrato por escrito com um clube e recebe, para isso, um subsídio superior ao montante das despesas efectivas decorrentes da sua actividade futebolística. Todos os outros jogadores são amadores”. Os clubes que pretendam disputar o Campeonato Nacional devem solicitar o Estatuto “especial” junto da FCF, que será concedido por um período de 2 anos, renováveis ou não – a sua obtenção está sujeita a deveres e condições.: “estar qualificado para o Campeonato Nacional; dispor de uma secretaria administrativa com meios de comunicação; dispor de um secretário trabalhando a tempo inteiro para o clube; dispor de organização administrativa e financeira competente (apresentação de contas, assembleia-geral e auditoria); dispor de recursos financeiros e de um orçamento mínimo a ser fixado; ter pelo menos uma equipa de jovens (sub-17 obrigatório) e ter um número de jogadores profissionais com contratos, ainda por determinar”. Cada clube poderá inscrever 25 jogadores no máximo; com um número mínimo de jogadores profissionais ainda por definir; os contratos dos jogadores profissionais deverão oscilar entre 2 a 3 anos e os contratos profissionais dos jogadores e treinadores deverão ser elaborados em 3 vias.
De acordo com a FCF, o novo modelo do quadro competitivo nacional para o futebol sénior, que está ancorado no Projecto FIFA “Gagner en Afrique avec l’Afrique”, onde os “apoios às associações africanas estão disponíveis”, vai permitir assim “a concretização de um sonho há muito acalentado pela comunidade futebolística cabo-verdiana, que é a realização de um verdadeiro Campeonato Nacional de qualidade, que possa servir os interesses competitivos, e não só, dos Clubes e Associações Regionais”.
SITUAÇÃO ACTUAL IMPEDE QUALIDADE COMPETITIVA
Actualmente, a FCF integra 11 associações regionais, com 84 clubes, com cerca de 2600 jogadores filiados, que actuam no escalão sénior masculino cujas provas são do seu controlo e responsabilidade. Nos escalões de formação, sub-13,15 e 17, o controlo não é efectivo, mas estima-se que haja 60 equipas com cerca de cinco mil praticantes. No feminino, calcula-se a existência de 47 equipas com cerca de 1300 jogadoras. Em relação às escolas de iniciação, os números apontam para a existência de 20 escolas com cerca de 2500 jogadores. Para a FCF, o quadro descrito “ilustra, de forma muito clara, a importância que o futebol tem no domínio social, onde assume uma função de promoção de valores e de capitalização cultural da juventude”.
No modelo actual, os Campeonatos Regionais têm, no máximo, a duração de 4 meses e o Campeonato Nacional 2 meses. Perante este quadro de pouca competitividade, com reflexos na qualidade do futebol praticado e no índice físico-técnico dos jogadores, que por vez se repercute na performance da Selecção Nacional, a FCF está empenhada em mudar o estado de coisas, no sentido de imprimir maiores índices competitivos nas provas regionais e nacionais: “a FCF, enquanto suporte deste processo de desenvolvimento, está determinada e disponível para, conjuntamente com todos os intervenientes, reflectir e trabalhar para a implementação desta nova proposta de reforma, começando pelo escalão sénior masculino, respondendo assim a uma reivindicação antiga dos desportistas cabo-verdianos”. Entretanto, os responsáveis do futebol nacional estão conscientes das dificuldades que irão encontrar e que “serão ultrapassadas com a participação de todos”. O tipo de organização, o prolongamento da competição e a necessidade de construção ou adequação de instalações mínimas, são os principais desafios da FCF para a implementação do projecto.
Os dirigentes federativos também acreditam “firmemente” que a proposta da reforma do quadro competitivo do futebol sénior masculino “trará ganhos significativos para o seu desenvolvimento, desde que todos aqueles que estão directa ou indirectamente envolvidos participem e trabalhem para a concretização dos grandes objectivos de um futebol moderno e competitivo, cuja qualidade se situe nos níveis que todos nós almejamos, isto é, a nossa afirmação nacional e internacional”. A FCF considera também que as iniciativas da parte dos responsáveis locais e nacionais no sentido de dotar o País de infra-estruturas desportivas “são, sem dúvida, factores importantes ao serviço dos futebolistas cabo-verdianos no melhoramento da qualidade técnica do jogo”.
CURAR AS DOENÇAS E PROMOVER A REFORMA
O projecto já foi apresentado em São Vicente, numa reunião com os dirigentes e treinadores realizada à margem do Torneio Inter-ilhas “Taça Independência”, que decorreu no passado mês de Agosto, na cidade do Mindelo. Na altura, o apresentador do Projecto, Eduíno Lima, professor de Educação Física e treinador de futebol das camadas jovens, defendeu a necessidade de uma reforma profunda no futebol cabo-verdiano: “o nosso futebol precisa de ser renovado e este projecto vai nesse sentido, porque visa uma cultura de seriedade, honradez e cooperação e solidariedade. É dentro desse quadro que todos os actores intervenientes deverão trabalhar para que a reforma traga ganhos significativos – para que o nosso futebol seja defendido de todos os males que o ameaçam, tais como a indisciplina, a má-criação, a falta de respeito, o desaforo, a batota, as desconfianças, as provocações e o bairrismo doentio”.
Eduíno Lima disse ainda que os agentes do futebol devem disponibilizar-se na partilha das responsabilidades da reforma e do desenvolvimento, adoptando atitudes e comportamentos “inteligentes”, pautados por padrões de cortesia, confiança e respeito: “sabemos que a mudança de atitudes requer um esforço aturado e um controlo contínuo, mas se praticarmos essa ideia e exigirmos que ela seja praticada por todos aqueles que dirigem e se movimentam em torno do futebol, estaremos a dar um grande contributo para que a reforma seja um sucesso e para que o nosso futebol fique cada vez melhor”.
O presidente da FCF, Mário Semedo, que esteve presente na reunião de Mindelo, disse também que o objectivo é criar uma relação mais clara, mais profissional, com um vínculo juridicamente mais forte entre o clube e o jogador, porque, “como se sabe, neste momento existem muitos conflitos, principalmente no início de cada época e, por isso, queremos eliminar todos os possíveis focos de conflito em matéria de inscrição dos jogadores, através de um vinculo contratual mais forte e juridicamente mais eficaz”.
A Federação Cabo-verdiana de Futebol prevê implementar o Projecto de Reforma do Quadro Competitivo Nacional, na época 2008/2009.

DA-Liberal

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