Thursday, January 7, 2010

Jovem holandês mata quatro membros de uma mesma família COMUNIDADE CABO-VERDIANA DE LUTO


O acidente que vitimou quatro membros da mesma família ocorreu às 19 horas e 45 minutos, quando a viatura conduzida por João Lúcio Marques foi abalroada por outra viatura, conduzida por um jovem, holandês de 25 anos, que vinha em excesso de velocidade e atingiu em cheio a viatura em que seguia a família cabo-verdiana. Devido as obras na local, a velocidade máxima era de apenas 30 e o condutor “suicida” conduzia a 147km/h.

O acidente aconteceu no Bairro de “Schiemond” na freguesia de Delsfhaven onde a maioria da população é de origem cabo-verdiana. Segundo Luís Fortes, o local está em obras há mais de um ano e, desde então, têm ocorrido vários acidentes. No ano passado uma criança cabo-verdiana de 6 anos perdeu a vida praticamente no mesmo local. Luís Fortes pede que as autoridades municipais apressem com as obras sob pena de termos mais vítimas mortais.


FALECIDOS NO ACIDENTE
João Lúcio Marques nasceu a 6 de Abril 1961, na cidade da Praia, Cabo Verde, mudou-se para ilha de São Vicente onde terminou a escola primária e fez um curso na escola técnica. Em 1984 foi estudar em Portugal, ficando por lá apenas um ano, tendo emigrado, então, para a Holanda, onde fixou residência e veio a casar com a Zezita. Pai de três filhos, pensava muito no bem estar da sua família. Um marido atento e carinhoso, que ajudava muito em casa e apoiava e estimulava a esposa em tudo. Gostava muito de cozinhar e foi ele a preparar todo o cardápio do Natal. Era um pai preocupado com a educação e o bem estar dos filhos e trabalhou muito para poder construir um bom futuro para eles. Lúcio tinha muitos amigos e todos os respeitavam e o admiravam.Tinha bom humor e gostava de brincar. Homem de muito planos, um dos planos era casar religiosamento no próximo mês de Julho quando completaria 25 anos de casado. Também pensava daqui a uns anos regressar a Cabo Verde.

LÚCIO O DESPORTISTA
Lúcio foi um exímio praticante de futebol em Cabo Verde apesar de ser sportinguista jogou no Desportivo da Praia e no Derby de S.Vicente. Na Holanda jogou em várias equipas amadoras entre as quais os “Badios” e em outras equipas holandesas. Jogava ainda pelos veteranos do PSV Portugal.
Foi treinador de diversas equipas cabo-verdianas que jogam no campeonato organizado pela ADCH (Federação Cabo-verdiana na Holanda). Com uma das equipas mais emblemáticas, o FC Santiago, conquistou vários títulos.
Tri-Campeão do Torneio organizado pela equipa Cabo Verde Boys (2003/2004/2005).
Bi-campeão na Taça e Super Taça da Liga(2004/2005 e 2005/2006). Bi- campeão no campeonato cabo-verdiano na Holanda com a equipa FC Santiago(2004/2005 e 2005/2006).
Venceu com a equipa de FC Santiago o Torneio dos 70 aniversário do Bairro Craveiro Lopes.
Treinou também com sucesso a equipa FC Salamança na Holanda conquistando também com essa equipa vários troféus.
Últimamente era olheiro da Federação cabo-verdiana de Futebol para a região da Benelux.
Breiten Lucio Marques (Filho) nasceu 9 de março de 1987 em Roterdão. Como criança foi varias vezes hospitalizado mas superou tudo porque segundo a irmã Jéssica ele era forte.
Jovem que amava a vida, gostava de viajar. Morou já em Fonte Ventura e Lanzarote, nas ilhas Canárias, viajou para Boston. Vivia cada momento com muita intensidade e para ele todos os dias era dia de festa – de segunda a domingo. Bom organizador, uma pessoa que adorava a vida, gostava de música, futebol e fez muitos amigos.
Amava muito a família dele, a Natasha a namorada. Para dar um exemplo como ele falava: Ele dizia à mãe que o amava muito mais que as profundezas do mar e mais alto que o Céu, era amor que não tinha fim.
Breiten jogava na equipa holandesa do PSV Portugaal. Todos os colegas da equipa e os dirigentes estiveram presentes. Na alturam ao lerem a mensagem de despidida dentro da igreja disseram que o camisola 10 que usa Breiten não ia mais ser usado este ano por nenhum jogador do Clube e que no reinicio do campeonato holandes amador ia ser guardado um minuto de silêncio.

Dirceu Jorge da Silva (Sobrinho) nasceu no dia 17 de Setembro de 1983 no conselho Nossa Senhora da Luz, na ilha de São Vicente, Cabo Verde. Uma pessoa com muitos dons que com os seus 18 anos foi para Portugal estudar: Licenciatura Designer multimídia, que ia terminar este mês e tinha planos para continuar estudar Arquitetura, musica animação social. Até no dia de Natal durante a noite escreveu uma musica no computador.
Gostava de ir à praia, desenhar, de fazer gráficas e de ajudar outras pessoas.
Para a mãe era um filho muito especial, muito carinhoso, muito atento. A mãe era tudo para ele, ele preocupar-se muito com ela e era muito atencioso para ela.
Os Colegas de Dirceu (Dicks) vieram de Portugal (politécnica de Caldas da Rainha) prestar homenagem ao amigo.

O HOLANDÊS COR
Era chamado carinhosamente pela família de Lúcio de opa (avo). Cor de 76 anos fazia realmente parte dessa família. Até ele tinha ainda um grande projecto. Dizia brincando que só morreria aos 115 anos. Sentia-se muito feliz na companhia dessa família que o acolheu com tanto carinho.
A HOMILIA NA IGREJA “HET STEIGER” NO DIA 2 DE JANEIRO DE 2010 A igreja cabo-verdiana Nossa Senhora da Paz era pequena para acolher a multidão que estaria presente nas cerimônias fúnebres e foi escolhida por isso uma igrena maior no centro da cidade “Het Steiger” que encheu e muita gente teve que ficar na rua pois a polícia, por razões de segurança, não deixava mais pessoas entrarem no templo repleto.
Três padres estiveram presentes na missa que antecedeu a ida dos féretros para o cimetério. Padres Pedro e Bernardo na Holanda e o Padre cabo-verdiano Alvaro Fonseca que se encontra aqui de férias.
Na sua mensagem disse o Padre Bernard que a passagem do ano foi definitivamente diferente e que o tempo parou mesmo como era tradição antigamente na Holanda quando alguém morria numa família e o relógio da sala era parado pois o tempo não importava mais, pois todos sentiam que as suas vidas não importavam mais e que os pensamentos ficavam com as pessoas falecidas, com a dor e a tristeza.
Terminou a pregação citando o evangelho de Jesus: “ninguém sabe a hora e o dia que o Senhor vai nos chamar. Jesus chega na hora que você menos espera! E o tempo parou! Nós não esperávamos isso, como podíamos? O Lucio, Breiten, Dirceu tinham ainda tantos planos e projetos para serem realizados. Terminar os estudos, começar com novos projetos de trabalhar, de estudar. O Lucio pensava casar na igreja este ano com a sua eterna namorada: a dona Zezita, de ver os filhos dos seus filhos”.
Foram lidas várias mensagens emotivas por cabo-verdianos e holandeses que conheciam os falecidos.
Um dos momentos que provocou maior emoção nos presentes foi a chegada da mulher/mãe/tia dos falecidos, Dona Zezinha que, apesar de gravemente ferida, quis estar presente na despedida dos seus entes queridos (foi levada pelos Para-Médicos que ficaram o tempo todo com ela).
Depois da Missa o cortejo fúnebre seguiu para o cimetério católico de Crooswijk, onde foram sepultados.

SOLIDARIEDADE
A Comunidade cabo-verdiana compareceu em peso nas cerimónias fúnebres. Milhares de pessoas resistiram a temperaturas negativas que se fazia sentir na Holanda para solidarizar-se com a família e depois das cerimónias fúnebres foi organizado uma tarde com música tradicional e com música jovem para homenagear as vítimas deste trágico acidente.
No caso do Dirceu, o Jovem que estava na Holanda, houve solidariedade de algumas organizações entre as quais a Fundação Cabo Verde. Os Amigos que ajudaram a custear as despesas do funeral que rondou os 7 mil euros.
Norberto Silva
Fotos de Shanna Rodriguez


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