Monday, April 26, 2010

O andebol no feminino

O andebol feminino desponta este ano como a grande aposta dos clubes da capital ameaçando mesmo destronar o basquetebol, bloqueado ainda devido à falta de piso no Pavilhão Desportivo Vavá Duarte. Se na época passada as movimentações de atletas já tinham sido ímpar na história do andebol em Cabo Verde, este ano Seven e ABC apostaram forte em estruturarem as suas equipas para destronarem o tradicional campeão Estrelas de Andebol. O viveiro ao que tudo indica continua sendo a Ilha de S. Vicente, e os melhores valores continuam a arrumar as suas malas e viajam para Santiago onde encontram melhores condições desportivas, profissionais e de formação. Eis a história de 4 estrelas do andebol sanvicentino que foram tentadas por melhores condições, arrumaram as malas e saltaram para a Ilha de Santiago.

Qual foi a tua primeira reacção quando foste abordada pelo Seven Stars para vires jogar na Praia, sabendo que essa abordagem nunca tinha sido feita em termos de andebol feminino em Cabo Verde?
Ponderei um bocado porque nunca havia pensado em sair de São Vicente para viver na Praia. Mas depois pensei que poderia ser uma nova experiência de vida e acabei por vir e ainda não me arrependi.

O que mudou na tua vida desde que foste para a Praia? Para além da componente desportiva, o Seven possibilitou-te alguma componente profissional ou formativa?
O Seven Stars ajudou-me a pagar o último ano que me faltava para completar a minha licenciatura em Educação Física e agora espero o meu enquadramento no Ministério da Educação, como professora de Educação Física. Já meti a minha candidatura há 6 meses e ainda não obtive nenhuma resposta. Enquanto espero, o Seven arranjou-me um trabalho, que não é na minha área, mas vai dando para o gasto.

Como consideras o nível de andebol feminino em Cabo Verde?
Em geral o nível é razoável. Aqui na Praia é que há mais competição. Nas outras ilhas o nível está muito baixo. Na Praia e em São Vicente o nível está mais ou menos, mas aqui na Praia a competição é mais renhida.
As equipas de São Vicente têm bom trabalho de técnica, mas aqui na Praia há mais garra e firmeza na hora de jogar e ninguém quer perder, mesmo que estejam a perder por muitos golos de diferença nunca desistem e jogam para ganhar até ao fim. Nós em São Vicente somos mais despreocupadas, somos "legalize", se perdermos não ficamos tristes, mas aqui na Praia não se admite perder. E agora eu também estou assim. Já não admito uma derrota, nunca permito a mim mesma perder sem luta. Se tiver que perder, que seja com dignidade, lutando até ao fim. Estou no meu melhor e para mim perder é inconcebível.

E como ficou o andebol em São Vicente depois deste êxodo das atletas para a Praia?
Anteriormente, mesmo com as atletas que foram contratadas pelo Seven ainda estarem lá a jogar, já tínhamos problemas em tentar levar o andebol para frente e depois de terem tirado as peças fundamentais das principais equipas, o nível de andebol baixou consideravelmente.

Pensas regressar a São Vicente?
Não, já não viveria em S. Vicente. Agora viveria ou na Praia ou fora de Cabo Verde. O sistema de vida e a rotina são diferentes. Agora que estou na Praia, vejo como S.Vicente é "parado". E em termos profissionais está pior ainda.

Então sentes-te privilegiada pelo facto de o Seven te ter ido buscar a São Vicente?
Sim, estou muito bem e mudou muita coisa na minha vida; de uma hora para outra era uma menininha e depois, num abrir e fechar de olhos, passo a dona de casa, casada e com responsabilidades.

Pensas continuar a jogar pelo Seven Stars?
É difícil responder a isto neste momento porque o Seven ainda não cumpriu tudo o que foi acordado entre nós. É a principal razão que me leva a pensar se continuo ou não. Basta cumprirem o que falta e eu continuo na equipa.

Em geral, estás satisfeita com a tua nova vida?
Afirmativo. Caí de cabeça, arrisquei e não me arrependo.
Elisabete Correia Gomes (Bety) Ex-Académica do Mindelo, actual ABC.

Porquê guarda-redes? O que te levou a optar pela baliza, um lugar que em geral não é muito apreciado?
Simplesmente surgiu. Fui para a baliza unicamente porque quando comecei a jogar andebol, no ciclo, as outras meninas ocuparam as suas posições dentro do campo e sobrei eu e a baliza. Então, fiquei nessa posição e quando fui para o Fogo estudar, estava eu no 2º ano, comecei a jogar a sério e descobri que afinal tinha mesmo talento para aquela posição. Também tinha um professor que apostou em mim, me deu segurança e então, naquela altura, decidi ser a melhor guarda-redes que conseguisse.

Qual foi a tua primeira reacção quando foste abordada pelo Seven Stars, para vires jogar aqui na Praia?
A minha situação é diferente da das outras raparigas que foram abordadas pelo Seven quando estavam a jogar em São Vicente. Eu vim para a Praia para trabalhar e entretanto o Nelinho, que era o treinador da equipa feminina do Seven, falou comigo e propôs-me jogar na mesma equipa, e se aceitasse, o Sevenme arranjaria um emprego. Como o meu objectivo era arranjar um emprego aqui na Praia, aceitei a proposta. Agora tenho o meu emprego, a minha vida estabilizada e estou contente com isso.

Como consideras o nível de andebol em Cabo Verde?
Quando se joga em S.Vicente e depois se vem para a Praia, o conceito de competição muda um bocado. Aqui na Praia o nível de competição é muito maior e pode-se conseguir alguma coisa com o desporto, jogas com mais vontade e tens possibilidade de ir mais longe ao passo que nas outras ilhas as pessoas jogam apenas por gosto e sem nada em troca.

E como ficou o andebol feminino em São Vicente depois deste êxodo das atletas para a Praia?
No principio, após o assédio que a Praia fez com as raparigas de São Vicente, o andebol ficou mais fraco. Mas estive em S. Vicente em Dezembro tive a oportunidade de ver que a principal equipa que foi mais afectada pela saída de jogadoras, a Académica do Mindelo, recuperou, porque embora, por um lado, tenha perdido algumas jogadoras, por outro ganhou outras jogadoras que voltaram do curso e ainda recuperou algumas atletas que já tinham desistido de jogar. O nível da equipa pode ter baixado um bocado, mas não tanto a ponto de se dizer que perdemos muito com a transferência das melhores jogadoras para a Praia.

Num futuro próximo pensas voltar para São Vicente?
Neste momento, todos sabemos que S. Vicente em termos de trabalho está estagnado. E não me vejo voltar para SV tão cedo porque não sei se em termos de profissão e de desporto haverá algum desenvolvimento num futuro próximo.

Em geral, estás satisfeita com a tua nova vida?
Completamente satisfeita. Vim para arranjar trabalho e consegui e tambémconsegui conciliar o trabalho com o desporto que era algo que eu queria. Nesta época, mudei de equipa e estou na equipa do ABC na qual também me encontro completamente satisfeita.
Nicole Caetano Almeida, Ex - Académica do Mindelo, actual Seven Stars.

Qual foi a tua primeira reacção quando foste abordada pelo Seven Stars para vires jogar na Praia?
Claro que fiquei na dúvida porque normalmente em Cabo Verde não é dado muito valor ao andebol. Quando me abordaram, fiquei mesmo com muitas dúvidas e pensei logo que era apenas "fogo de palha".
Mas o Seven continuou a insistir e a mostrar muito interesse pelo meu andebol e ainda prometeu arranjar-me um trabalho. Tenho que confessar que ponderei muito, mas a situação em que São Vicente se encontra neste momento em termos de trabalho, fez-me decidir e aceitar a proposta do Seven.

A partir daí, o que mudou na tua vida?
Em termos profissionais mudou muita coisa. Em SV eu trabalhava, mas não tinha nada a ver com o trabalho que tenho agora. O meu emprego actual é muito melhor.

O Seven não te facultou nenhuma componente formativa?
Quando o Seven me fez a proposta, falei com os dirigentes da minha equipa na altura os quais me disseram que se eu continuasse na equipa, me pagariam o que falta dos meus estudos. Aí, tornei a falar com a Direcção do Seven que me informou que se jogasse na equipa me arranjavam um trabalho, a estadia na Praia e ainda os estudos, se eu quisesse. Mas aceitei a proposta apenas com o trabalho e a estadia porque penso terminar os estudos só para o próximo ano, quando tiver a minha vida mais estabilizada.

Como consideras o nível de andebol em Cabo Verde?
Na praia, o nível de andebol está muito bom e há diversas equipas, mas nas outras ilhas sinceramente, o nível ainda está muito aquém do que poderia ser.

Mas especificamente entre Praia e São Vicente, qual tem melhor nível?
Aqui na Praia o nível é melhor e aqui os jogos são levados muito mais a sério. Em São Vicente, joga-se por gosto e aqui temos que dar tudo de ti porque todos querem ganhar e temos mais responsabilidades porque fomos contratadas, a equipa gasta dinheiro connosco. Quando cheguei aqui, vim a descobrir que afinal, apesar de eu já saber que havia mais competição, as coisas eram ainda muito mais difíceis do que eu imaginava. Porque na Praia jogamos de uma maneira e em São Vicente é completamente diferente. Aqui na Praia joga-se mais com a força e em São Vicente utiliza-se mais a técnica e joga-se mais pelo bonito. Eu ainda não me adaptei à maneira como se joga na Praia. Já estou cá há um bom tempo, jogo bem, mas ainda não consegui adaptar-me para poder explodir e fazer grandes jogos.

E como ficou o andebol feminino em São Vicente depois deste êxodo das atletas para a Praia?
Desde que vim para a Praia ainda não fui a SV, mas pelo que ouço dizer pelos amigos de lá, o nível do andebol desceu um bocado.

Num futuro próximo pensas voltar para São Vicente?
Sinceramente, não. Não vejo o que possa ir fazer a SV agora. Neste momento, tenho o meu trabalho, a minha filha está comigo e aqui há muito mais oportunidades a nível de tudo.

Pensas continuar no Seven ou se te fizerem uma melhor proposta, vais para outra equipa?
Em princípio, não tenho ideia de sair do Seven. Se continuarmos assim, não me passa pelo mesmo pela cabeça. Estou no meu melhor momento e devo isso ao Seven. Como se costuma dizer, eu e o Seven estamos casados. Acho que isto diz tudo.
Telma Edite Miguel Lima, Ex - Mindelense, actual Seven Stars

Qual foi a tua primeira reacção quando foste abordada pelo Seven Stars para vires jogar na Praia?
Quando falaram comigo, apenas a Rosângela é que ainda estava cá. Apesar de saber que a Rosângela tinha boas condições aqui na Praia, não me passou pela cabeça vir para cá. Mas depois pensei melhor e decidi que queria conhecer um nível de andebol diferente daquele a que já estava habituada. Não queria vir para a Praia porque era muito apegada à minha equipa mas tive que fazer uma escolha e em primeiro lugar tenho que pensar na minha vida pessoal e nos benefícios que viria a ter e resolvi vir fazer apenas uma experiencia.

A diferença entre o andebol de São Vicente e o de Santiago Sul?
Quando cheguei, descobri que o andebol aqui afinal não era o que eu pensava que fosse. Fiquei um bocado decepcionada. Estava iludida porque pensava que a Praia tinha um andebol melhor que o de São Vicente. Pensei que tivesse um nível muito mais elevado em relação a SV, mas afinal vim a descobrir que não. O nível de andebol de São Vicente é muito mais elevado. As atletas têm mais técnica de base que é mais trabalhada em relação à Praia e aqui na Praia o andebol é mais agressivo.

O que mudou na tua vida depois que foste para o Seven? Para além da componente desportiva, o Seven possibilitou-te alguma componente profissional ou formativa?
Estou bem, o Seven trata-me muito bem. Primeiro vim pelo andebol, e também vim para tentar continuar a minha formação. Comecei a minha licenciatura na Universidade Lusófona em São Vicente, mas por não estar a gostar da qualidade de ensino de lá, acabei por vir tentar aqui na Praia. A Direcção do Seven conseguiu-me um estágio numa empresa e também estou a fazer um curso de inglês no ISBS pago pelo Seven.

O Seven Stars é a primeira equipa que contratou jogadoras de outras ilhas para vir jogar na Praia. Pode-se considerar que já somos profissionais e no andebol nunca houve nada disso. Nas outras equipas que já jogámos, lesionávamo-nos e ninguém se preocupava connosco. Nós é que tínhamos que ir atrás das consultas, das fisioterapias e ainda arcávamos com todas as despesas. Mas aqui no Seven podemos estar seguras de que fazem tudo isso por nós. O Seven pagou-nos a passagem para vir para a Praia, a estadia e ainda arranjou-nos trabalho. Acho que assim o andebol feminino consegue ir para a frente e com jogadoras com muita vontade de jogar.

Como ficou o andebol em São Vicente após este êxodo das atletas para a Praia?
Fiquei muito triste com a nossa saída das esquipas de São Vicente. Às vezes dá-me vontade de voltar para São Vicente para ir ajudar a minha equipa, principalmente quando as minhas antigas colegas de equipa me telefonam a dizer que a minha equipa perdeu. O ano passado ganhámos o regional sem termos perdido um único jogo e neste ano já perdemos jogos com a nossa principal rival que é o Batuque.

Num futuro próximo pensas voltar para São Vicente?
Tenho 3 meses aqui e ainda não me senti adaptado nem estabilizada e ainda não me acostumei com a Praia. Esta fase inicial tem estado a ser um bocado difícil para mim. Mas o meu objectivo mesmo é fazer esta experiência e depois voltar para SV. Não tenho intenções de ficar a viver na Praia.

Expresso Das Ilhas

http://www.criolosports.com/

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