Tuesday, August 28, 2007

BASQUETEBOL CABO-VERDIANO (I): PARA ALÉM DA FESTA DO AFROBASKET


Somos medalha de bronze do continente. Provamos ter valores individuais e equipa para continuar a perseguir o sonho ambicioso e, hoje por hoje, menos utópico, de nos tornarmos uma potência africana na modalidade ou, pelo menos, se quisermos ser mais ponderados e consentâneos com a nossa realidade, de nos batermos de igual para igual com as demais. Esta(re)mos verdadeiramente preparados? Poderemos ambicionar a conquistas idênticas no futuro, na ausência de uma política desportiva para o País capaz de, com os parcos recursos que temos, estabelecer prioridades de investimentos em infra-estruturas, apostar na formação dos técnicos e dos dirigentes, dinamizar e promover as escolas de iniciação desportiva, a par do desporto escolar, e formatar um novo quadro legal para o desporto cabo-verdiano? Deveremos considerar este bronze, de que todos se devem orgulhar e enaltecer, como reflexo do estágio actual de desenvolvimento do basquetebol cabo-verdiano ou, antes, como obra dos deuses, neste caso dos nossos “bravos guerreiros” de ouro?

O basquetebol cabo-verdiano está de parabéns pelo 3º lugar alcançado no Afrobasket 2007, que representa, sem sombra de dúvidas, o maior feito desportivo da história destas ilhas. De parabéns estão, também, o desporto cabo-verdiano e o País, que vêem o nome de Cabo Verde projectado ao mais alto nível no contexto das nações - Graças ao bronze, com sabor a ouro, de mais uma proeza do basquetebol cabo-verdiano.

A Federação Cabo-Verdiana de Basquetebol (FCBB) havia fixado, como objectivo da selecção sénior masculino na referida prova, melhorar a classificação obtida na última participação (7º lugar). Para os amantes e acompanhantes da modalidade pareceu realista e ponderado, quer do ponto de vista da pressão/ambição que poderia exercer sobre os jogadores, quer considerando o potencial dos adversários e aquilo que estava a ser a preparação da equipa, com alguns seleccionados muito contestados.

Contudo, impulsionados pelo apelo do Presidente da República (PR) para sonharem, os jogadores e a equipa técnica – serão perpetuados na história como os “bravos” que conquistaram África, a partir de Angola – com muita humildade, vestidos de “fato-macaco” e guiados pela crença e pela luz que acompanha os heróis, encarregaram-se de deixar o sonho comandar a vida. O que poucos se atreviam a sonhar, transformar-se-ia em realidade para todos os cabo-verdianos: CABO VERDE BRONZE NO AFROBASKET 2007.

Os nossos bravos de hoje, referências de amanhã e heróis para sempre, conseguiam, com o seu espírito guerreiro e a sua união, colocar este pequeno país, mas peculiar na sua grandeza pelos quatro cantos do mundo, em apoteose. O tempo é de festa e de euforia. Merecida… completa e plenamente!

O povo sai(rá) à rua, para agradecer e reconhecer o feito da sua selecção, a imprensa nacional associa(r)-se(-á), dando voz e fazendo eco deste grande acontecimento, os poderes e os dirigentes desportivos, cada um à sua maneira e com a legitimidade que a sua postura (o trabalho em prol desta “batalha”) lhes permite, enaltece(rão)m esta conquista, prometendo esforços e engajamento no sentido de ajudarem a criar as condições para que este feito histórico seja o primeiro, se não de muitos, mas de tantos outros.

Que a festa continue, porque os nossos “bravos” bem que a merecem. E, se poder ser estendida até finais de Setembro, para ser de novo reanimada com mais um feito da selecção feminina, ainda melhor.

E agora, ou recolocando a questão, e a seguir?

Somos medalha de bronze do continente. Provamos ter valores individuais e equipa para continuar a perseguir o sonho ambicioso e, hoje por hoje, menos utópico, de nos tornarmos uma potência africana na modalidade ou, pelo menos, se quisermos ser mais ponderados e consentâneos com a nossa realidade, de nos batermos de igual para igual com as demais.

Esta(re)mos verdadeiramente preparados? Poderemos ambicionar a conquistas idênticas no futuro, na ausência de uma política desportiva para o País capaz de, com os parcos recursos que temos, estabelecer prioridades de investimentos em infra-estruturas, apostar na formação dos técnicos e dos dirigentes, dinamizar e promover as escolas de iniciação desportiva, a par do desporto escolar, e formatar um novo quadro legal para o desporto cabo-verdiano? Deveremos considerar este bronze, de que todos se devem orgulhar e enaltecer, como reflexo do estágio actual de desenvolvimento do basquetebol cabo-verdiano ou, antes, como obra dos deuses, neste caso dos nossos “bravos guerreiros” de ouro?

O basquetebol cabo-verdiano, ainda que não possa ser limitada apenas à realidade das ilhas, não estará padecendo de grandes males, nalguns casos estruturantes do desporto cabo-verdiano, mas que vêm sendo, sucessiva e propositadamente, “camuflados” pelos resultados positivos das várias selecções? Como explicar esta contradição? Tal facto dever-se-á apenas a causas naturais que fazem com que o cabo-verdiano nasça com o dom pelo basquetebol (e por muitas outras modalidades) ou, poderá ser uma consequência da política federativa? Já agora, sem que isso se traduza em afronta a quem quer que seja, qual é a política da FCBB para o desenvolvimento da modalidade no País, para além dos Afrobasket?

Dizia, há bocado, o que muitos corroboram: o tempo é de festa e de euforia. Questões incómodas, reflexões pertinentes e soluções que urgem, não devem ser agora e para aqui chamados. Festa é festa! Diria ainda, mesmo a contragosto, que quase concordo. Mas, por gostar tanto de festa, não fosse eu cabo-verdiano, pergunto-vos: não mereceremos festas iguais ou feitos maiores no futuro? Como conseguiremos este desiderato? Quais serão os desafios e que mudanças exigirão? (…)?

Bom, partilhada estas linhas, fruto da vivência e da paixão pelo basquetebol, vou também para a festa, tentando acreditar no sonho de que, com esta grande conquista, tudo será diferente para melhor no basquetebol cabo-verdiano, daqui para a frente. Ah, mas não deixarei de retomar o assunto, dando o meu modesto contributo para mais esta causa.

Até lá, reiterados parabéns e agradecimentos àqueles que, sonhando e acreditando, nos fizeram viver mais um momento ímpar da nossa história como nação: i) a cada jogador desta magnífica selecção, mas também aos que não conseguiram lá chegar, ou por lá já passaram; ii) aos técnicos, de cada equipa cabo-verdiana e da nossa selecção, com particular destaque para o “nosso Scolari”, Emanuel Trovoada, pelo seu enorme coração; iii) aos dirigentes da FCBB, não obstante as divergências “estruturais” e os antagonismos “conjunturais”, pelo trabalho e pela coragem. Bem hajam.

Força CABO VERDE. Que venham mais conquistas, mas que continuemos humildes na procura permanente do rumo certo para o basquetebol e para o desporto cabo-verdianos.


Luís Eduardo Nobre Leite, Lewis_milk@hotmail.com
Liberal

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