Tuesday, October 14, 2008

Luís Leite prepara-se para passagem de testemunho


Luís Leite, jovem dirigente desportivo, tem sido um lutador incansável em prol de um desporto de qualidade, assente nos princípios da ética e do fair-play. Leite conseguiu reorganizar o Prédio, colocando o clube juvenil entre os melhores de Santiago, nas modalidades de basquetebol, e voleibol e lançou as bases para a sustentabilidade desportiva, criando a escola de formação "Caçulinhas do Prédio". Um dos próximos desafios de Luís Leite é tentar acabar com a "anarquia" que reina no basquetebol de Santiago.

Expresso das Ilhas - Está na direcção do Prédio há cerca de 4 anos. Neste momento qual é situação do clube a nível competitivo e social?
Luís Leite - A Associação Desportiva Recreativa e Cultural do Prédio é uma "organização social, cujos objectivos primordiais são a promoção e o fomento de actividades desportivas, recreativas, culturais, cívicas, comunitárias e sociais" que vai completar 28 anos, em Dezembro próximo, e que se encontra num processo de refundação e modernização, tentando consolidar o seu projecto desportivo, alicerçado na formação e iniciação desportivas, sem perder de vista a sua dimensão social, cívica e comunitária.
Por isso, quatro anos depois, o momento é de balanço do trabalho feito e da passagem de testemunho a uma nova equipa directiva, que seja capaz de imprimir um novo entusiasmo e dinamismo a esta causa, tal como o fizemos em Maio de 2004 e, por razões várias, não conseguimos dar continuidade no último ano e meio.
- Mas quando entrou, encontrou um clube completamente desorganizado?
LL - Efectivamente, o objectivo desta equipa, constituída na sua maioria por jovens formados nesta "escola de valores" que é o Prédio, foi colocar um termo ao vazio organizacional e directivo em que se encontrava a Associação, desde os finais da década de 90, com base num Plano de Acção assente em 4 eixos estratégicos: reorganização interna, com o funcionamento quase em pleno dos órgãos sociais e um trabalho (por concluir) em termos de filiação de associados e sustentabilidade financeira; política desportiva, que tem sido a face mais visível, quer na vertente competição, quer na vertente formação; promoção e dinamização de actividades de índole social e cultural, com destaque merecido para o amplo Programa Comemorativo do XXV aniversário; Parcerias e marketing institucional, com vários acordos celebrados e uma aposta forte na criação de uma nova imagem e no lançamento de um site oficial que, em ano e meio, tem já mais de 100 mil visitas;
- O Prédio já entrou nos eixos, participando activamente nas diversas competições de Basquetebol de Santiago Sul. Quais são os próximos desafios do clube?
LL - Diria, antes, que já foram dados os primeiros passos de um longo caminho a percorrer, que visa a sustentabilidade de um projecto desportivo assente na formação. Mais do que o regresso às competições oficiais, nas modalidades de basquetebol e voleibol - com a conquista de um campeonato regional e um 2º lugar no Nacional - os grandes desafios passam pela transformação da nossa Escola "Caçulinhas do Prédio" numa Academia de formação, que seja uma referência no país, não só pela qualidade e seriedade do projecto, mas também pelo seu ecletismo, agrupando o mini-basquetebol e o voleibol, já existentes, e o futebol.
Falando deste trajecto de 4 anos, gostaria de realçar o importante papel do nosso patrocinador de referência, a CabO Verde Telecom, sem a qual não teria sido possível alcançar o patamar que atingimos.
- Mas o andebol que foi uma das modalidades de marca do Prédio continua no esquecimento?
LL - O nosso Projecto Desportivo é faseado e tem prioridades. Recomeçou pelo basquetebol, foi estendido ao voleibol, e a próxima modalidade contemplada será o futebol, com o lançamento da Escola que poderá a receber o nome de "Caloichi", em reconhecimento do internacional cabo-verdiano Carlos Morais, que foi N/ atleta, curiosamente de basquetebol, e que vai apadrinhar a Escola, tendo já oferecido materiais e equipamentos desportivos vários. O andebol surgirá, naturalmente, a seu tempo.
- O prédio aposta muito na formação. Essa aposta tem dado frutos?
LL - Os frutos da formação são, em si mesmo, a acção formativa que só quem trabalha com crianças tem o privilégio e o prazer de sentir. Todavia, a nossa aposta na formação visa, igualmente, criar as bases necessárias para o sucesso desportivo nos escalões etários subsequentes, à imagem daquilo que foi o trajecto do Prédio, no seu tempo áureo... sem pressas, privilegiando a transmissão dos valores da ética e do fair-play e, porque não, esperando colher benefícios financeiros que permitam sustentar a aposta.
- Mas o caminho que o basquetebol está a seguir, com a "profissionalização" pode comprometer o trabalho daqueles que apostam na formação?
LL - Hoje em dia, o desporto cabo-verdiano já não rima com o voluntarismo de outrora. Neste sentido, é importante que os órgãos competentes, a tutela governativa e as Federações, comecem a ter uma visão estratégica de médio e longo prazo capaz de incentivar e defender quem trabalha na formação.
- Então haverá um mecanismo de protecção daqueles que contribuem para a formação de jovens atletas.
LL - Evidentemente. Não só internamente, protegendo aqueles que estão na formação com base em projectos, valores e princípios, dos que se tentam apoderar dela, apenas por causa da força do dinheiro, como a nível externo, legislando e criando condições para que a colocação de jovens atletas, no estrangeiro, seja devidamente compensada.
- Que avaliação faz do basquetebol em Santiago e, em Cabo Verde, de uma forma geral?
LL - Quase que temos duas realidades distintas: por um lado, uma selecção sénior masculino que, recorrendo à nossa diáspora, principalmente, tem contribuído positivamente para elevar o nome da modalidade e do país; por outro, um "basquetebol das ilhas", em crise que se vai agudizando, de ano para ano, triste, desolador e inaceitável!
- Na época passada, o Prédio contestou a actuação da Associação e mesmo da Federação. O que é que esteve na base dessa contestação?
LL - O Prédio, de há muito tempo a esta parte, mesmo anterior à minha liderança, tem procurado combater, energicamente, os comportamentos e as atitudes daqueles que se dizem amantes da modalidade, cuja actuação são ditadas por interesses mesquinhos e jogos de bastidores, em que tudo vale para ganhar. Infelizmente, é com muita tristeza e desconsolo, que constato que não conseguimos ganhar a batalha da transparência, da ética e dos valores do fair-play, no nosso basquetebol, como aliás fica provado pelos últimos e lamentáveis acontecimentos... que tiveram, é certo, uma outra cobertura mediática, mas que foram quase um "remake" da situação vivida e denunciada pelo Prédio, há dois anos, quando fomos impedidos de ganhar o Campeonato Regional.
- A associação Regional de basquetebol está sem direcção. O que é que o Prédio pretende fazer no sentido de viabilizar uma nova direcção?
LL - Há dois anos trabalhamos arduamente para a formação de uma Direcção que pudesse trazer algo de positivo para o basquetebol santiaguense. Incredulamente, assistimos à tentativa, conseguida de resto, do seu desmantelamento por aqueles que gostam da anarquia e da confusão para poderem reinar, pelo que, desta feita, vamos adoptar uma posição mais passiva... até porque, não só estamos de saída, como já temos alguma dificuldade de nos sentarmos à mesma mesa com certos dirigentes, com todo o respeito pelos clubes que representam.
- E em relação à Federação, que avaliação faz da actual direcção.
LL - Enquanto Presidente do Prédio, como a título pessoal, já manifestámos publicamente a nossa posição. Fomos dos primeiros, correndo os riscos de uma opinião contra a corrente. Os factos vieram a dar-nos razão. De Santo Antão a Brava, são poucos os amantes da modalidade que se revêem na actual equipa federativa.
- Defende então eleições antecipadas na FCBB?
LL - É um cenário possível, que compete às Associação Regionais decidirem. Se o assunto nos for colocado em sede da Associação a que pertencemos, no momento próprio diremos da nossa justiça.
- Do seu ponto de vista o que é preciso fazer a curto e médio prazo para introduzir melhorias na gestão da modalidade.
LL - O basquetebol, tal como o voleibol, e provavelmente a generalidade do desporto cabo-verdiano, padece de uma ampla reforma legislativa, para além, claro, das mudanças que se impõem em termos do financiamento, do papel e da intervenção dos poderes públicos, da qualificação dos técnicos e dos dirigentes, da infra-estruturação... enfim, uma "revolução" na política e planificação desportivas.
No caso específico do basquetebol, para estancar a crise, já seria excelente uma mudança/reforma de alguns dirigentes.
Expresso Das Ilhas

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