Por Gerson Melo
Na minha última crónica fiz uma breve referência sobre o que penso do Desporto de Alto Rendimento e o Desporto para Todos em Cabo Verde, pois bem hoje pretendo aprofundar em pouco mais esse tema.
Há uns tempos, nas vésperas da participação de uma delegação cabo-verdiana numa competição internacional, fiquei espantado quando um dirigente pediu aos atletas resultados que pudessem trazer medalhas para Cabo Verde. Pois bem, no desporto não há milagres.
A organização deve começar bem no topo da pirâmide, dos governantes para os atletas e não ao contrário como tem acontecido em algumas modalidades.
Pelos resultados que algumas modalidades desportivas têm obtido e pelas aspirações que todos temos, é chegado a hora de haver uma projecção a longo prazo, com um horizonte mínimo de 15 a 20 anos, sem demasiado protagonismo dos dirigentes e centrado nos atletas.
O primeiro passo passará por haver coragem e decidir quais as modalidades que deverão integrar o programa, o programa de alta competição!
Sim, é necessário haver essa selecção. Infelizmente Cabo Verde não possui recursos suficientes para apostar em todas as modalidades, por isso devemos fazer uma escolha que nos dá garantias.
Esse fenómeno de especialização já acontece em muitos países que tem melhores condições que Cabo Verde, como por exemplo a Nova Zelândia, Cuba ou até mesmo a Etiópia e Kenya.
Com isto não quero dizer que as modalidades que não forem contempladas pelo programa deixem de ser praticados em Cabo Verde, apenas passarão a ser integrados noutros projectos com outros objectivos, o do Desporto para Todos. E se no passar dos anos demonstrarem qualidade e organização para subirem para o patamar de alto rendimento poderão fazer parte do programa.
Se a organização, o desempenho e a credibilidade das diversas modalidades são muito diferente, também o tratamento dado a cada um deve ser diferente. E isto não é nenhuma discriminação, apenas as exigências da competitividade.
Futebol, Basquetebol, Andebol, Voleibol, Golfe, Atletismo, Ginástica, Boxe, Karate, Takewond, Ténis, Surf, Bodyboard, WindSurf, Kitesurf, Skiming, Ciclismo, Natação, são muitas modalidades, para um país como Cabo Verde, a quererem competir a nível internacional. E isto leva com que os resultados sejam fracos devido a dispersão dos meios financeiros.
Essa escolha deve ser precedida de uma aposta clara nas modalidades seleccionadas e nos atletas contemplados. Não devemos esquecer que um atleta deve começar o seu processo de formação muito novo e que são necessários pelo menos 10 anos de treinos e competição para se conseguir um resultado internacional positivo.
A preparação dos atletas deve ser organizada de acordo com os ciclos olímpicos, de 4 em 4 anos, com participações em provas internacionais devidamente programadas para de uma vez por todas deixarmos de ouvir os dirigentes a uma semana de competições a queixarem de falta de apoio financeiros.
Um programa dessa dimensão e com esses objectivos, não deve andar ao sabor das mudanças políticas, deve ser o mais possível autónomo e não deve ser instrumento de caçar votos.
Muitos podem pensar mas para quê apostar no Desporto de Alto Rendimento e no Desporto para Todos? O Desporto do Alto Rendimento dá projecção ao país, une a população, cria a auto estima e o orgulho no país, para além de outros benefícios financeiros. Quanto ao Desporto para Todos, para além de combater os males sociais, que são muitos, por cada euro investido no desporto poupa-se 3 euros os cuidados da saúde (dados da União Europeia).
Naturalmente que a escolha das modalidades contempladas deve ser criteriosa e suportada por estudos científicos, mas também deve atender as condições naturais do país e ao desempenho das Federações responsáveis pelas diversas modalidades.
Como é natural qualquer escolha deve ser sempre discutida e será também motivo de discórdia, mas se todos tivermos em mente que este processo fará com que haja um melhor aproveitamento e divisão dos recursos financeiros a compreensão será muito maior.
Se formos ouvir outras pessoas quanto a este assunto, poderemos encontrar opiniões diferentes da minha, mas fazendo uma análise penso que Cabo Verde deve apostar enquanto Desporto de Alto Rendimento nos desportos náuticos e nos desportos de praia (Voleibol e Futebol) pelas condições do país, no futebol e no basquetebol pelos resultados que essas modalidades tem obtido e nas modalidades menos técnicas do atletismo.
No desporto não se deve inventar, devemos sim adaptar à nossa realidade os projectos que obtiveram de sucesso em outras paragens. A simplicidade e a organização deverão ser os eixos de qualquer projecto desportivo.
Lisboa, 19 de Fevereiro de 2010
Gerson Melo
gersonsenamelo@gmail.com
http://www.desportocaboverdeano.blogspot.com/
HOME
Friday, February 19, 2010
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
gosto das tuas opinioes.
ReplyDelete