Thursday, November 18, 2010

CABO VERDE 2 vs 1 Guiné-Bissau: Tubarões terminam 2010 em beleza

A Seleção Nacional de futebol derrotou, nesta terça-feira, a Guiné-Bissau por duas bolas a uma, em encontro disputado no Estádio do Restelo, em Lisboa.

Foram muitos os que se deslocaram ao estádio para assistir à partida, mas não deixa de surpreender que houvesse mais bissau-guineenses do que cabo-verdianos na bancada, tendo em conta a dimensão da comunidade crioula residente em Lisboa que, dizem os números, ultrapassa por larga margem o número de bissau-guineenses.

Os que não quiseram perder a partida (dentre os quais se destaca um duo de indefectíveis que viajaram, imagine-se (!), desde a Holanda para apoiar a Seleção Nacional), foram bem equipados: cachecóis, bandeiras, camisolas, buzinas... tudo que tivesse a cor azul servia, enquanto do outro lado a festa dos "Djurtus" também era animada, eles que chegaram bem cedo para apoiar a renascida seleção da Guiné-Bissau.

Espetadores especiais da partida foram Marco Soares e Valter, que se encontram lesionados, Tom, médio ofensivo internacional por Cabo Verde, agora a representar o Anadia, da 2ª Divisão portuguesa, e João de Deus, o antigo selecionador nacional.

Lúcio Antunes escolheu o seguinte "onze" inicial: Fock, Gegê, Varela, Nando, Stopira, Toni, Rony, Odair, Babanco, Lito e Ryan.

Em campo, o desenho tático da turma nacional variava entre um 4-4-2 losango e um 4-1-3-2, dependesse do movimento defensivo ou ofensivo. Toni Varela era o trinco, jogando à frente dos centrais Nando e Varela. Odair e Roni, quando Cabo Verde defendia, funcionavam como médios-interiores direito e esquerdo, respetivamente, ficando Babanco no vértice ofensivo do losango. Quando Cabo Verde atacava, Odair e Roni encostavam-se às linhas e procuravam desequilíbrios, muitas vezes com a colaboração dos laterais, ficando em linha com Babanco. Já com Cabo Verde em vantagem, não raras vezes Roni aparecia mais perto de Toni Varela e Lito encostava à esquerda, resultando num temporário 4-1-4-1.

Quanto ao jogo em si, Cabo Verde entrou a todo o gás, fazendo-se valer do natural favoritismo para encostar o adversário às cordas. Lito, Ryan e Rony eram os jogadores em foco, antes de Babanco e Odair também contribuírem para a pressão crioula. O 1º golo resulta de uma excelente incursão de Stopira pela esquerda, aproveitando o espaço provocado pelas constantes movimentações de Lito, Ryan e Rony, faz um cruzamento milimétrico para a cabeça de Lito, que nem teve de saltar para, com um belo cabeceamento, colocar a bola fora do alcance do guarda-redes. Delírio nas hostes crioulas, pois o mais difícil estava feito.

Os bissau-guineenses respondem e, por duas vezes, ficam perto do empate: num primeiro remate a bola rasa o poste esquerdo da baliza de Fock, na segunda tentativa a bola foi à trave. Zezinho, jovem bastante talentoso, foi o autor das duas ofensas. A expectativa aumentava nas bancadas e os adeptos guineenses multiplicavam-se nos incentivos. O jogo entrava num ritmo frenético, com ataques perigosos de parte a parte. Nesta altura, era Ryan a seta apontada à baliza bissau-guineense, passando pelos pés do promissor atleta cabo-verdiano todas as jogadas de ataque.

O 2º golo nasce de um belo movimento da direita para a esquerda. Odair, que nos primeiros minutos dava sinal de algum desnorte tático, compreensível para quem se estreava na seleção, e logo a titular, coloca a bola nos pés do playmaker Babanco, que completa a viragem à esquerda com um passe certeiro para Roni. A partir daí, o médio que joga no Luxemburgo fez a sua magia e, à entrada da grande área, levanta o estádio com um pontapé pleno de colocação. Um golo bastante festejado, para ver e rever na televisão.

A partir daqui esperava-se uma gestão tranquila dos Tubarões Azuis, mas os "Djurtus" mostraram bastante garra e apertaram o cerco. Sobrecarregavam Stopira com ataques pela ala direita, e nem a ajuda de Roni e Nando estancava a produtividade daquela flanco guineense. E foi pela direita que a Guiné-Bissau marcou: Almani Moreira aparece solto e cruza para a pequena área; no amontoado de jogadores, acabou por ser Fernando Varela, o herói do jogo com o Mali, a desviar a bola para a baliza de Fock.

Até ao intervalo destaque para boas incursões de Odair Fortes, Ryan e o magnífico jogo de Rony, quer a defender, quer a atacar. Babanco passeava a sua classe perante os médios guineenses, que só o travavam recorrendo à falta. Lito fazia todos duvidarem dos seus 35 anos.

Para o 2º período, Cabo Verde veio com a lição bem estudada, de controlar a partida e evitar sobressaltos, procurando sempre o 3º golo. Babanco era o homem em foco, e assim foi até uma entrada despropositada ter atirado o jogador do Arouca para fora da partida. Lúcio foi obrigado a colocar Dário em campo. Rony ocupou a vaga de Babanco, Dário colocou-se na meia-direita. E foram nesses minutos que se registaram os maiores calafrios, e os adeptos temeram o empate. Dário, talvez acusando a falta de competição (esta época, graças à desorganização de Santiago Sul, ainda só se realizou a Supertaça), entrou bastante mal no jogo, não produzindo ofensivamente e chegando a comprometer defensivamente, tendo valido uma grande exibição de Gegê nas suas costas. Foi, aliás, num lance infantil em que Dário joga a bola com as mãos, que a Guiné-Bissau teve a sua grande oportunidade através de um livre, felizmente desperdiçado.

Héldon e Dady entravam para os lugares de Odair e Lito, recuando Ryan para a posição de médio-ofensivo. As ocaisões rareavam, mas Cabo Verde mostrava segurança. Sidnei entrou para lugar de Ryan, dando mais consistência ao meio-campo. Héldon não conseguia levar a melhor sobre os defesas guineenses no confronto físico, e as bolas nunca chegavam em condições a Dady. Notava-se que, na ausência de Babanco, o meio-campo não tinha um verdadeiro criador de jogo.

Até ao final, só de bola parada houve emoção. O goleador Dady apontou de forma quase perfeita um livre-direto, tendo valido uma magnífica defesa do guardião guineense. Por seu turno, só por intermédio de livres inconsequentes é que a bola entrava na área de Fock. Stopira tinha acertado a marcação e raramente foi batido no 2º tempo.

João Vicente estreou-se, tendo entrado para o lugar de Stopira a 10 minutos do fim. O lateral do Moreirense não teve tarefa fácil, pois teve de levar com mais uma avalanche de ataques bissau-guineenses pela ala direita do seu ataque, tendo valido as dobras dos colegas. Josimar Lima também pôde estrear-se, tendo entrado aos 90 minutos para o lugar de Rony, o homem do jogo.

Apreciações individuais


Fock - 6, revelou alguma insegurança nos cruzamentos para a área durante toda a partida, mas correspondeu bem aos raros remates que foram à baliza. Passou parte da 2ª parte a coxear, espera-se que não seja grave.

Gegê - 7, tímido na 1ª parte, respirava confiança na 2ª. Não teve grandes problemas a nível defensivo, e ainda soube apoiar o ataque.

Varela - 6, os avançados guineenses deram trabalho na 1ª parte, mas na 2ª nem a puderam "cheirar". Muito seguro, só foi infeliz no lance do auto-golo.

Nando - 6, um líder dentro do campo, não foi tão seguro quanto o habitual, tendo sido amarelado bem cedo, revelador das dificuldades na marcação.

Stopira - 7, permeável defensivamente na 1ª parte, fez o cruzamento para o primeiro golo e revelou muito mais segurança defensiva na segunda parte.

Toni Varela - 8, um bom trinco geralmente passa despercebido, e só se deu por Toni Varela devido às inúmeras recuperações de bola no meio-campo. Imperial.

Odair Fortes - 6, parecia um peixe fora de água no primeiro quarto de hora da partida, mas adaptou-se e mostrou excelentes pormenores técnicos. Faltou um pouco mais de agressividade e maior compensação defensiva. Peça a ter em conta no futuro da nossa seleção.

Babanco - 7, sofreu uma entrava violenta quando já tinha colocado a partida no bolso. Só é difícil perceber como é que um médio de tanta qualidade só chega à Europa aos 25 anos... A lesão sofrida não deverá ser grave.

Lito - 7, é o capitão, e quando bailava perante os defesas guineenses, via-se classe e não os 35 anos de idade. Marcou o primeiro golo, mas depois acusou algum desgaste.

Ryan - 7, foi um trabalhador incansável e é impossível não gostar da sua postura em campo, mas faltou frieza no último toque. Nada que não se ganhe com a experiência.

Dário - 4, terá acusado a falta de competição, sem dúvida a peça de menor rendimento.

Héldon - 5, muita vontade, alguns bons pormenores, mas teve problemas com o maior poder físico dos bissau-guineenses.

Dady - 5, teve o seu momento num livre-direto que quase dava golo, mas poucas foram as bolas que chegavam jogáveis lá à frente.

Sidnei - 4, pouco tempo em campo, conseguiu segurar as pontas no meio-campo.

João Vicente - 4, ainda entrou a tempo de passar por alguns calafrios, valeu pela estreia.

Josimar Lima - só atuou 5 minutos, valeu pela estreia do jovem de São Nicolau.

RONY - MVP (9) - grande exibição do médio do CS Fola, seja a interior direito, a médio direito, a médio defensivo, a médio-ofensivo, sempre presente nas compensações defensivas, sem esquecer um golo magnífico.

Cabo Verde Desporto

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