Monday, December 13, 2010

São Vicente lança polémica sobre as selecções de andebol

O treinador Pierre Malfoy anunciou esta terça-feira os nomes das catorze atletas que vão integrar a selecção de andebol sénior feminino de Cabo Verde no torneio de apuramento da Zona II para a Copa de África das Nações, marcado para o mês de Janeiro, no Senegal. A lista inclui dez atletas da Praia e apenas duas residentes em S. Vicente, o que parece dar consistência a rumores chegados aos ouvidos da Associação de Andebol de S. Vicente, dos treinadores e das jogadoras de que havia uma ideia pré-concebida de que o combinado nacional deveria ser composto na sua maioria por andebolistas que militam nas equipas da Capital.

Em conversa com LANCE dias antes da divulgação da lista feminina, Fátima Dias, presidente da AASV, e o treinador Adelino “Didi” Duarte deram corpo à preocupação reinante nas hostes mindelenses. Falaram de uma alegada tentativa para deixar S. Vicente à margem da selecção feminina, que aliás não será a única descontente: há um ligeiro descontentamento também no campo masculino. No entanto, o sentimento mais forte reside exactamente no escalão feminino, pois circulavam informações segundo as quais a própria federação deu indicações para que Pierre Malfoy desse primazia às jogadoras da Praia, partindo-se do princípio de que as melhores atletas da ilha do Monte-Cara já estavam a militar nos clubes Seven Stars e ABC.
“Se a FCA acha que as melhores atletas estão concentradas na Praia, então não precisamos fazer o campeonato nacional. E se estamos perante uma selecção de Cabo Verde, temos de tentar envolver todas as ilhas e não partir de falsos pressupostos”, comenta Fátima Dias, que, segundo diz, teve sempre dificuldades em obter informações oficiais sobre os trabalhos que o treinador Pierre Malfoy pretendia fazer em S. Vicente. Além disso, Dias comunga da opinião do técnico Didi de que o francês não deveria estar à frente de mais esta selecção nacional cabo-verdiana. A justificação é que Pierre sempre foi conhecido como jogador, do Seven Stars, e não como treinador.
“Mas, se partirmos do princípio de que ele foi premiado pelo resultado no Challenge Trophy, pergunta-se porque razão não voltou a convidar o técnico Jean Pierre como seu adjunto?! Preferiu escolher Beto e concentrar toda a equipa técnica na cidade da Praia”, sublinha Fátima Dias, que questiona ainda a forma como Malfoy analisou as potenciais candidatas à pré-selecção quando da sua deslocação a S. Vicente. Segundo as suas palavras, o treinador viu as jogadoras nos treinos das respectivas equipas, conversou com os treinadores e regressou à Praia sem dar cavaco à associação sobre a lista das pré-convocadas. Além disso, acrescenta, em resultado da forma como o assunto foi tratado, não foi indigitado um treinador para trabalhar com as pré-convocadas, que continuaram, por isso, a treinar nos respectivos clubes. “Em momento algum, a AASV foi abordada sobre essa eventualidade”, afirma Dias.
Para o treinador Didi, S. Vicente continua a dispor de óptimos atletas, que deram mostras tanto em masculino como em feminino, no último campeonato nacional. “O Batuque perdeu por uma bola de diferença com Estrelas de Andebol, num jogo viciado, em que fomos superiores em campo, e depois querem que aceitemos a ideia de que já não temos jogadoras em S. Vicente? Não, S. Vicente continua a ser uma ilha cheia de potencialidades, sem demérito pela qualidade das atletas da Praia”, reage Didi, que se mostra incomodado com a renomeação de Pierre para o cargo de treinador principal da selecção de Cabo Verde. Deixa claro que não tem nada contra a pessoa, mas sublinha que o francês nunca desempenhou o cargo de treinador em Cabo Verde, por isso não entende que ele seja agora “coroado rei do andebol”, só porque ganhou o Challenge Trophy. É diferente a postura em relação a Leonel “Lalim” Martins, seleccionador masculino, que integra a equipa técnica da Académica do Sal, ganhou vários títulos nacionais e, logo, é natural que tenha sido escolhido.
Abordada sobre esta polémica, Filomena Fortes começou por esclarecer que jamais irá imiscuir-se no esquema dos seleccionadores, porque essa função não lhe assiste como presidente da FCA. Segundo Filú, a FCA recebeu um plano de trabalho das equipas técnicas masculina e feminina e tem-se limitado a seguir essas instruções. Mesmo assim, desmente que tenha dado indicações às equipas técnicas no sentido de colocarem S. Vicente à margem das selecções. “Se isso fosse verdade não enviaria os dois técnicos nacionais à cidade do Mindelo e sei que convocaram alguns jogadores tanto masculinos como femininos. Sei também que não encontraram nenhum treinador disponível em S. Vicente para trabalhar com os pré-convocados. Perante isso, e como havia também falta de campo, a opção foi para que os jogadores continuassem a treinar nos seus clubes”, explica Filú, para quem é natural algum descontentamento em relação à selecção, por ser a primeira vez que isso acontece no país, na modalidade de andebol.
Quanto às críticas sobre a escolha de Pierre para treinar a selecção sénior feminina, Filú diz respeitar as posições contrárias mas acredita que elas partem de pessoas que não conhecem as capacidades do francês como treinador. Este, segundo a presidente da FCA, tem desde que chegou a Cabo Verde mostrado a sua disposição de apoiar a federação e apresentou os seus projectos, que foram inclusivamente votados pelas próprias associações, em assembleia. “A FCA gostaria de tê-lo a tempo inteiro e já apresentámos uma proposta ao ministro da Educação e Desportos no sentido de ele passar a ser pago como técnico da federação. No dia em que isso acontecer, ele deixará de jogar. Por enquanto, ele dá o seu apoio gratuito, por isso não podemos impedi-lo de jogar pelo clube que o contratou”, acrescenta. Filú aproveita a oportunidade para apelar a uma maior união de todos aqueles que amam o andebol, para que Cabo Verde possa conseguir a sua qualificação para a Copa de África das Nações.
Confrontado igualmente com as críticas, Pierre deixou claro que a sua vontade era ter uma pré-selecção a trabalhar em S. Vicente, mas confirma que não encontrou um técnico disponível para fazer esse trabalho. Explica que esteve nos treinos das equipas do Amarante, Batuque e Académica e que indicou aos respectivos treinadores os nomes das jogadoras pré-seleccionadas. “Escolhi o Beto como adjunto aqui na Praia porque ele foi cinco vezes campeão nacional e estamos perante uma outra selecção. Por outro lado, por aquilo que sei, a maior parte das principais atletas está aqui na Praia”, entende Pierre, que já traçou como objectivo vencer um jogo de cada vez, no Senegal. Ele que não conhece as potencialidades das suas adversárias, diz acreditar na possibilidade das crioulas vencerem o torneio.
Quanto à equipa masculina, cujos treinos estão especialmente concentrados no Sal e na Praia, o técnico Lalim conta divulgar a lista definitiva dos jogadores na próxima segunda-feira. Na sua deslocação a Mindelo, o treinador salense escolheu seis atletas mas garante que não encontrou nenhum técnico disponível para orientar os treinos da pré-selecção. “Por isso pedi aos técnicos que dessem uma atenção especial aos pré-convocados nos seus treinos normais”, explica Lalim, que admite ter à sua disposição um variado leque de bons jogadores e que isso anda a criar-lhe alguma dor de cabeça. “Sei que muitos bons jogadores vão ficar de fora, mas tenho que tirar catorze num leque de trinta e seis atletas.” A lista definitiva sai na próxima segunda-feira.
KzB
Asemana

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